Foi-se Embora O
Trenzinho
Homenagem ao 125. Aniversário de
Heitor Villa-Lobos
Foi-se embora o trenzinho
Carregando a infância
Distância que não se mede
Das almas que vida pede
Foi-se embora o trenzinho
Perdeu-se nas curvas da serra
Na paisagem devastada
Sonhos findados em nada
Na estação sem destino
Chora a pobre menina
Que viu partir o menino
Sem saber qual o destino
Foi-se embora o trenzinho
Terra em guerra a esperar
Na estação da esperança
Que um dia ele possa voltar
Foi-se embora o trenzinho
Carregando os brinquedos
Das pobres meninas de tranças
Dos meninos sem infância
Foi-se embora trenzinho
Levou as cantigas de roda
As travessuras da infância
O brilho e a esperança
Foi-se embora o trenzinho
Para o país da infância
Morada eterna dos sonhos
Das lembranças de criança
Foi-se embora o trenzinho
Mais quando vem a saudade
Desperta do passado a beleza
Do som do apito, da natureza
Corre a vida fogem os sonhos
Distante do trenzinho caipira
Em busca de um mundo novo
Como a obra de Villa Lobos.
(Ana Stoppa)
Nota:
O Trenzinho do Caipira é uma
composição de Heitor Villa Lobos e parte integrante da peça Bachianas
Brasileiras n. 2 .
A obra se
caracteriza por imitar o movimento de uma
locomotiva com os instrumentos da orquestra.
Anos depois, a melodia recebeu letra composta por
Ferreira Gullar em Poema
Trenzinho Caipira
Heitor Villa Lobos
Lá
vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e
destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo
encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra
Vai pelo
mar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar
No ar
no ar no ar no ar no ar
Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a
rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem
destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela
serra
Vai pelo mar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as
estrelas a voar
No ar no ar no ar.
Biografia de
Villa-Lobos
Heitor Villa-Lobos, (Rio de Janeiro
05.03.1887 - 17.11.1959 Rio de Janeiro) filho de um modesto funcionário público,
letrado e melômano, que tocava violoncelo, muito novo é iniciado no estudo do
instrumento pelo pai, que, dada a pequena altura da criança, utiliza para o
efeito uma violeta voltada para baixo. Falecido Raul Villa-Lobos prematuramente
em 1899, a mãe do futuro autor de Amazonas pensou em fazê-lo seguir a carreira
de médico, mas a paixão era por de mais forte e, munido do seu violão, dava-lhe
largas, tocando em rodas e conjuntos instrumentais populares, os chamados choros
e, começando em 1900 a compor para o instrumento uma série de pecinhas de gosto
também popular. Em breve ganhava a sua vida como violoncelista, tocando em
cinemas, teatros e cafés.
Dos 18 aos 20 anos leva uma vida
errante e aventurosa através do Brasil, visitando o Norte, o Centro e o sul do
país, tocando, compondo familiarizando-se com a música popular e recolhendo
nessas peregrinações impressões que vão às suas futuras obras. Os seus estudos
haviam-se feito irregularmente. Aperfeiçoara a técnica do violoncelo com Breno
Niedemberg, mas da curta passagem pela aula de harmonia de Frederico Nascimento,
no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, pouco proveito tirara. Em
1913 abandonara a vida errante e fixa-se no Rio.
Continua a compor abundantemente em
todos os gêneros: música sacra, música teatral, música solística, musica
sinfônica ao mesmo tempo que estuda com atenção as partituras dos mestres, o que
foi bem dizer a sua única escola.
Em 1915 realiza o primeiro concerto
de obras suas. Iniciando de certo modo o modernismo musical brasileiro, a arte
de Villa-Lobos provocou as mais violentas reações da parte do público e da
critica, por muitos anos se prolongando a posição ao artista que assim ousava
insurgir-se contra a tradição.
Só por volta de 1918, na realidade,
a orientação nacionalista e propriamente folclorizante de Villa-Lobos começa a
precisar-se com a composição pianística intitulada Prole do Bebê , que foi
também a sua primeira obra que, graças à arte de Arthur Rubinstein, levou o nome
do compositor pare além das fronteiras do seu país. O nacionalismo folclorizante
adquire feição sistemática em meia dúzia de obras que àquela se seguem e que são
das mais significativas da produção do compositor.
Em 1922 a famosa semana da Arte
Moderna de São Paulo consagra o nome do compositor.
Oficialmente já o talento de
Villa-Lobos se achava reconhecido pelo governo e é o próprio parlamento que, em
1953, vota um subsídio para que o compositor possa efetivar uma viagem para à
Europa. De regresso em 1925, realiza concertos em Buenos Aires, São Paulo e Rio
de Janeiro, ao tempo em que prossegue a composição de uma série das suas mais
características obras de inspiração folclórica, os Chôros.
Em 1927 parte de novo para a
Europa. Até 1930 vive em Paris, assinalando-se este período na realidade como de
decisiva importância na carreira do compositor, graças aos contatos que
estabelece na capital francesa à revelação nela da sua obra, o que lhe granjeia
a reputação internacional do mais representativo e original músico da América
Latina.
De regresso ao Brasil, Villa-Lobos
inicia um período de grande atividade, dirigindo concertos de obras
contemporâneas, promovendo uma intensa campanha no sentido de implantar o
cultivo da música coral nas escolas e realizando, dentro deste plano,
gigantescas concentrações orfeônicas, que ele próprio dirige, não sem uma certa
dose de espectaculosidade. A subida ao poder, em 1930, de Getúlio Vargas foi de
molde a favorecer as ambições do músico, que apoiando o ditador, encontrou nele
o mais estimulador apoio. É colocado à testa da Superintendência de Educação
Musical e Artística, cria o Orfeão dos Professores, promove vasta obra de
educação musical popular e, em 1943, vê coroados os seus sonhos e esforços com a
criação, pelo governo federal, do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, que
passa dirigir.
Com tudo isto, a sua criatividade
de compositor não diminui de intensidade, mas há reconhecer que as obras que a
partir de então escreve perdem algo de originalidade e força nativa.
Tornado de certo modo músico
oficial do Brasil, Villa-Lobos funda em 1945 a Academia Brasileira de Música, de
que é nomeado presidente, e passa a fazer regularmente viagens ao estrangeiro,
já para representar o seu país em congressos, já para dirigir concertos das suas
próprias obras. Por outro lado surgem as distinções internacionais: em 1937 é
feito membro honorário da Academia de Sta. Cecília de Roma; homenageado na
Colômbia e na Argentina, recebe em 1943 o titulo de doutor em Musica honôris
causa pela Universidade de Los Angeles. Em 1948 a sua ópera Malazarte é estreado
nos Estados Unidos e em 1954 visita Israel, a convite do governo do país.
(Fonte: Dicionário de Música Ediçoes Cosmos)
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